Coluna do Edilson – Saudades
Na última crônica, encerrei-a lembrando-me de Ruy Barbosa, quando ele, ao discursar da tribuna do Senado Federal, dizia sentir saudade da justiça imparcial, exata e precisa.
Eu também tenho saudade dessa justiça ou, pelo menos, do tempo em que eu acreditava que ela existia. Ah!… Como eu quero poder vivenciar novamente esta sensação! Além dessa, eu sinto outras saudades. Algumas, o tempo tornou impossível revivê-las, outras eu vejo cada vez mais distante a possibilidade de conseguir saciá-las.
Sinto enorme saudade da tradicional família, onde seus membros se sentavam ao redor da mesa para o sagrado momento das refeições. Sim!… Houve tempo em que as refeições familiares eram sagradas!
Imensa a saudade de quando era comum pedir e receber bênçãos dos pais, tios, avós… Em um respeito natural, em um reconhecimento natural, no qual o amor ao pai e à mãe era pleno, constante e sincero, não necessitando de uma data específica para sua manifestação.
Sinto saudade de quando, de verdade, a educação vinha do berço, sendo transmitida pelos pais carregada de princípios de respeito, moral e apreço aos bons costumes e aos hábitos sadios, que nos faziam corar ante um erro e profundo sentimento de vergonha pelo desapontamento causado por uma atitude reprovável.
E como não sentir saudade de um tempo quando, após a família, tínhamos em nossas professoras a figura que nos transmitia respeito e a possibilidade do aprender. Quando a escola não tinha cor e nem partido e os professores se empenhavam, na maioria das vezes de corpo e alma, para ensinar e ver prosperar os alunos a eles confiados.
Sinto-me feliz por poder sentir essas saudades, provas inquestionáveis de ter vivido momentos em que a felicidade não era medida por bens materiais, mas, eram experimentadas em coisas simples, cotidianas, porém, tão importantes e preciosas que as carregarei na lembrança até o fim.
Mas, os tempos passaram, os conceitos de outrora se perderam pelo caminho. Com isso, as coisas se transformaram, as pessoas mudaram e, infelizmente, para pior, permitindo a completa inversão de valores.
Então, o que era minoria passou a ser maioria e o que era exceção se transformou na regra!… Perdeu-se a noção da honra e do respeito, assim como, da necessidade da preservação dos bons costumes, da ética, da moral, do direito do próximo.
Neste cenário, como as instituições são emergidas da sociedade, elas também se profanaram, passando a ser ocupadas por pessoas que não exercem seus cargos enxergando-os como sacerdócios, mas, como ferramentas a lhes servir e lhes permitir alcançar seus sórdidos objetivos.
Lamentavelmente, hoje, assistimos os mais altos cargos de nossas instituições serem ocupados por pessoas moralmente desqualificadas e, muitas vezes, despreparadas para tais exercícios. Pior é saber que essas aberrações têm origem em nosso meio e, se os absurdos dos quais tanto reclamamos acontecem é por nossa própria culpa, afinal, assim como nós, eles são frutos de uma sociedade que se permitiu corromper, que se prostituiu e lançou na lama os mais elevados valores.
Grande parte daqueles, talvez a maioria, que tanto criticam a rapina e a corrupção praticadas por políticos inescrupulosos, são os mesmos que falsificam e adulteram documentos para ter acesso a benefícios pagos pelo governo, formando fila para recebê-los, mesmo deles não necessitando.
A esmagadora maioria das pessoas, para profundo lamento, só praticam as pequenas corrupções por não lhes serem dadas as possibilidades de praticarem as grandes, pois, se as oportunidades lhes fossem oferecidas, certamente, não hesitariam em as praticar e, possivelmente, com muito maior avidez.
Sinto realmente saudade do tempo em que as famílias desestruturadas, professores despreparados, pessoas mal intencionados, políticos corruptos e pessoas desonestas eram minoria… Quando o negativo era exceção e não a regra!