Coluna do Edilson – Injustiça
Quem bem me conhece sabe que, mesmo sem querer desmerecer a outras grandes e proeminentes figuras da história, eu considero Martin Luther King a maior personalidade do Século XX.
Desta admiração, entre tantas afirmações transbordantes de verdade, considero como a mais brilhante de suas frases o pensamento em que ele afirma que “a injustiça cometida em algum lugar compromete a justiça em todos os lugares”.
Na condição de uma pessoa trabalhadora e que se empenha em ser honesta e cumpridora de seus deveres, mesmo estando distante de gozar dos plenos direitos, tenho me sentido ofendido com a forma como age grande parte daqueles que deveriam ser os guardiães da Justiça. A ponto de duvidar que, de fato, no Brasil, a justiça é aplicada de forma plena e isenta.
Fatos como o ocorrido na última semana, em Santa Catarina, quando um juiz puniu com a liberdade um filho de família rica e influente, a quem condenou de forma absurda a “estupro culposo”, em uma sessão na qual a vítima foi condenada à humilhação de ter sido estuprada, enoja a todas as pessoas de bem deste país, reféns de uma Justiça injusta.
Atitudes como as tomadas por essa pessoa que não honra a toga que usa e ao usá-la o faz como um déspota, ofende ao povo, impondo-lhe a sensação de impunidade, criando total insegurança e a desconfiança de não existir recompensa ao se trilhar o caminho do bem.
Tudo isso levando-nos a suscitar trecho de discurso proferido por Ruy Barbosa, em 1914, quando declarou que o triunfo das nulidades, a prosperidade da desonra, o crescimento da injustiça e o agigantamento do poder nas mãos dos maus leva o homem a “desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.
Os direitos do cidadão, repousados em leis escritas com rebuscadas palavras, muito distantes à compreensão e ao entendimento da esmagadora maioria das pessoas, no Brasil, são privilégios de alguns afortunados, nascidos em berços esplêndidos, ricos de poder, porém pobres de moral e bons princípios.
Ao assistirmos representantes da Justiça, em todas as suas instâncias, inclusive na Suprema Corte, concedendo benefícios, liberdade e perdão a criminosos, assassinos, traficantes e corruptos condenados pela própria Justiça, nos sentimos no direito de acreditar que a “Dona Justiça” nunca foi cega como se pensava!… Ela apenas fecha os olhos quando lhe é conveniente e, apenas por “coincidência”, ao ter diante de si denúncias de crimes cometidos por afortunados, opta em premiar o algoz e em punir a vítima.
E, para se justificarem da injustiça praticada e da impunidade mantida, invariavelmente beneficiando aos mais poderosos, transferem a dispositivos legais a culpa por não aplicarem ao autor a justa pena, mesmo quando o dolo cometido é público e notório.
Ora!… Se as leis não satisfazem aos anseios do povo pela aplicação da justiça plena, que se mudem as leis!… Afinal, as leis foram criadas para satisfazerem aos homens ou foram os homens criados para satisfazerem as leis?
Neste país, com amplo potencial para ser uma mãe gentil para todos e não somente para uma minoria de privilegiados, os “braços da Justiça”, que se tornam longos para atingir pobres desafortunados, tornam-se demasiadamente curtos, fracos e atrofiados quando chamados a alcançarem canalhas ricos, poderosos e influentes.
A tão mencionada “defesa ampla, geral e irrestrita” não é praticada da forma como se mostra na teoria impressa nos livros quando ela não se estende a todos, mas, somente a quem pode por ela pagar.
Aceitando críticas e punições por não praticar a idiotice do “politicamente correto”, penso ser impossível acreditar em Justiça em um país onde as grades das cadeias continuam a cercar apenas aos pobres, aos pretos e às prostitutas.