Seca prolongada afetará a safra de café do próximo ano
Incêndios, tempo seco e problemas respiratórios não são as únicas questões graves que a falta de chuvas está causando em Minas Gerais. A prolongada estiagem poderá também afetar a produção das lavouras cafeeiras do estado, causando impacto negativo na economia. A cada ano, o Brasil produz algo em torno de 57 milhões de sacas de café, sendo que o estado de Minas Gerais é responsável por metade desta produção.
De acordo com Arnaldo Botrel, presidente da Comissão Estadual de Café da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), que ressalta os estragos gerados pelo tempo seco nas lavouras e as perdas que o fenômeno já traz, o estado vive um cenário de tempo seco, sem volume de chuvas considerável há mais de quatro meses em muitas regiões. “É um período longo. Tem região no Sul de Minas que já fazem 140 dias sem chuva, outra região 120, outra 130. Isso já está praticamente no limite. Daqui a pouco, o café vai dar flor para depois virar grãozinho, se essa seca permanecer até esse período da primeira florada, podemos perder ela inteira”.
Como Arnaldo Botrel esclarece, a perda da primeira florada deve representar um prejuízo de 30 a 40% de toda a safra futura do café. “O grão não aflorando, a produção não vai para frente. Ela se torna menor e se a produção se torna menor o produtor pode trabalhar no prejuízo”.
Ele explica que a florada é uma das fases mais importantes para a definição da produtividade do cafeeiro. Teoricamente, quanto maior for a florada, maior será a produtividade de grãos. Ele relata que tem presenciado uma seca violenta em fazendas que tem visitado. “Se o cafeicultor poderia produzir 40 ou 30 sacas por hectares, com a seca, se ele produz 15 ou 20, ele está colhendo a metade. O custo é muito alto.
Se a seca persistir mais uns 15 a 20 dias, acho que vai ficar muito sério”. Para ele, isso pode afetar no preço pago pelo consumidor, porém, em proporção menor comparado ao valor que o produtor perde.
Como informa João Thomaz Cruz, analista de assistência técnica e gerencial do Sistema Faemg Senar, nesse momento, a lei de oferta e procura pode prevalecer. “Se a gente tem uma procura grande por esses produtos e a oferta nos mercados está pequena, acaba que o preço será maior. Além disso, a qualidade da bebida pode sofrer alterações, pois a safra terá grãos não tão uniformes e xoxos”.
Em Caratinga
De acordo com especialistas do setor consultados por A Semana, a situação vivida no Sul de Minas é a mesma enfrentada pelos cafeicultores de Caratinga, Manhuaçu e região, resultando em acentuada queda na produtividade e, também, na qualidade dos cafés produzidos, gerando muitos prejuízos.
Na verdade, os resultados negativos previstos com a redução no volume das chuvas na região de Caratinga, além dos danos que causarão aos cafeicultores, também afetarão a economia do município, uma vez que o café ainda é uma das principais bases do comércio local, em um verdadeiro efeito cascata.
Tais efeitos serão sentidos no próximo ano, já que o período da colheita na região de Caratinga começa a partir do final de abril, em algumas regiões, se estendendo até agosto nas regiões mais altas.